domingo, 5 de julho de 2015

DEVEMOS OU NÃO DEVEMOS FAZER DÍVIDAS?






Durante mais de vinte anos, provei sofrimentos causados pelas dívidas. Para que possam fazer uma ideia, recebi várias intimações judiciais e sofri uma falência. A “filosofia da dívida”, da qual falarei a seguir, baseia-se nas conclusões que tirei de todas estas experiências.
Farei uma análise da pessoa que está para fazer um empréstimo.
Existem empréstimos ativos e passivos. O empréstimo ativo é aquele que se faz quando se vai começar um empreendimento, já calculando que uma quantia X vai dar um lucro Y; isto é, faz-se o cálculo de modo que sobre algum dinheiro mesmo depois de subtraídos os juros. Esse tipo de empréstimo todos conhecem. Entretanto, no caso dos empréstimos passivos, sai mais dinheiro do que entra, por isso ele está sempre faltando.
É comum a pessoa fazer dívidas por não haver outra alternativa. Quando as coisas começam a apertar, ela não consegue pensar no futuro. Diante de uma situação difícil, tenta livrar-se dos compromissos imediatos, sem levar em consideração se os juros são altos ou baixos; o importante, para ela, é conseguir o empréstimo. Muitos anúncios publicados atualmente nos jornais, sobre a concessão de empréstimos, são desse tipo. Podemos dizer que, a essa altura, entre dez dessas pessoas, oito ou nove estão a um passo do abismo.
Esta classificação dos empréstimos é uma classificação feita a grosso modo. Agora vamos analisar o caso de não se fazer o empréstimo.
Começa-se o empreendimento com o capital que se possui no momento. Mesmo que seja um negócio de pequeno porte, não há outro recurso. Suponhamos, por exemplo, que se tenha cem mil ienes. Inicialmente, emprega-se a metade ou um terço desse capital. Como o restante fica guardado, poder-se-á pensar que o negócio progredirá muito lentamente. Além disso, esses cem mil ienes devem ser obtidos com o esforço próprio, sem a ajuda de ninguém, pois assim estarão impregnados de suor e terão força. Depois, inicia-se o empreendimento, que deve ser do menor porte possível. Exemplifiquemos.
Comecei o método de terapia pela Fé no mês de maio de 1934, alugando uma casa de cinco cômodos por setenta e sete ienes. Estava situada na rua Hiraga-tyo, no bairro de Koji Mati (Tóquio). Achei que era uma casa boa demais; entretanto, como as condições eram ótimas, decidi alugá-la. Na época, eu ainda tinha muitas dívidas, mas fiz esse empreendimento pensando em praticar a filosofia para a qual despertara através delas. As idéias sobre esse princípio filosófico me foram fornecidas pela Grande Natureza. Podemos entendê-lo observando os seres humanos. A criança recém-nascida, com o passar dos meses e dos anos, vai crescendo cada vez mais, e a sua força e inteligência tornam-se adultas. O mesmo acontece com as plantas. Plantando-se uma pequena semente, ela germina, formando um broto; a seguir saem duas folhinhas e, depois das folhas propriamente ditas, o caule se desenvolve, os galhos se expandem, até que a planta se torna uma enorme árvore. Esta é a verdade. Portanto, os seres humanos precisam seguir esse exemplo. Eu tive a revelação de que, praticando fielmente o princípio acima, não deixaria de obter grande sucesso. Decidi, pois, em qualquer empreendimento, partir da menor forma possível.
A maior parte das pessoas, no entanto, tenta fazer coisas grandes e aparatosas desde o começo. Observando bem, vemos que a maioria acaba fracassando. Quase todos os empreendimentos da sociedade são assim. As pessoas começam por negócios de grande porte e só depois de fracassarem é que, forçadas pelas circunstâncias, seguem a ordem, ou seja, começam tudo de novo, fazendo pequenos empreendimentos. Só então é que conseguem sucesso.
A propósito, os negócios nunca se processam de acordo com a lógica ou com os cálculos. Existem vários motivos para isso, mas o mais importante é a influência da mente. Como o dia do vencimento da dívida nunca deixa de chegar, aconteça o que acontecer, essa preocupação está continuamente martelando a cabeça da pessoa. Naturalmente, a realidade nunca acompanha os planos. Com essa preocupação constante na mente, não surgem boas idéias. Esse é o ponto mais desvantajoso. Ora, com os bolsos sempre vazios, as pessoas não têm vitalidade. Mesmo que se enfeitem exteriormente, são pobres material e espiritualmente. Por isso, mostram-se inibidas em todos os seus empreendimentos, não têm força para crescer, estão sempre descontentes. Os comerciantes, por exemplo, não conseguem fazer compras mesmo que as mercadorias estejam baratas; conseqüentemente, deixam de lucrar. Como a maioria prorroga o prazo do pagamento da dívida, a confiança dos outros diminui. Se o prazo se prolonga por muito tempo, começam a correr juros em cima de juros. A essa altura, a pessoa começa a se afobar e força a situação. Quando isso acontece, é o seu fim. Eu sempre faço advertências sobre a afobação e as situações forçadas, mas a maioria das pessoas não percebe isso. Mesmo que momentaneamente os resultados sejam bons, eles nunca duram muito tempo.
Os famosos senhores feudais Nobunaga e Hideyoshi, por exemplo, fracassaram porque se afobaram e forçaram situações. Em contrapartida, o domínio da dinastia Tokugawa durou trezentos longos anos porque, nos métodos empregados por Ieyassu, seu fundador, não houve afobação ou situação forçada nem mesmo para ele assumir o poder. Ieyassu utilizava-se da famosa tática de “ceder para vencer”, quando achava que a situação estava um pouco difícil: esperava a oportunidade propícia, isto é, aguardava que o tempo ficasse a seu favor. Assim, fez com que o poder rolasse naturalmente para as suas mãos.
Eis o conselho de Ieyassu: “A vida do homem é como uma longa caminhada carregando um pesado fardo. Não se deve ter pressa”. Essas palavras expressam muito bem o seu caráter. A derrota do Japão, nesta última guerra, teve várias causas, mas não há dúvida de que a afobação e as situações forçadas foram fatores decisivos, embora, desde o início, o procedimento dos japoneses tenha sido errado.
Não se deve fazer empréstimos para pagar dívidas, mas foi o que aconteceu no período final da guerra, e pelo mesmo motivo foi emitido dinheiro de maneira bem desordenada. Essa foi, em grande parte, a causa da inflação.
A Inglaterra, logo após a formação do gabinete trabalhista, tomou dos Estados Unidos um empréstimo de três bilhões e setecentos milhões de dólares. Acho que seria uma boa iniciativa se, futuramente, não se tornasse motivo de problemas financeiros; mas, depois disso, foi preciso tomar empréstimos em cima de empréstimos. A desvalorização da libra também é uma conseqüência desse fato. Na época em que o Império Britânico era próspero, sua receita anual elevava-se a três bilhões de libras, provenientes de suas colônias e de outras fontes. Que diferença entre a situação atual e a situação antiga! O equilíbrio financeiro da Inglaterra, que até então era um dos seus motivos de orgulho, acabou em tal estado após o país passar por duas guerras. Foi um destino inevitável.
Pelo que foi exposto, fica evidenciada esta verdade: não se deve contrair dívidas, e, em todas as iniciativas, é preciso começar de forma pequena. Gostaria que fizessem disso um lema a ser seguido. Contudo, quando se tem absoluta certeza de poder saldar a dívida em curto prazo, é admissível contraí-la.
Esta é a minha filosofia da dívida, que eu recomendo a todos.


12 de novembro de 1949
Retirado do livro "Alicerce do Paraíso."

HOMEM VERDADEIRO


“Quem vive censurando os erros alheios será censurado por Deus.”
O fato de ainda haver, entre os fiéis, uma maioria que comenta: “Fulano é bom,beltrano é mau”, “isto é um obstáculo, aquilo não”, significa que os Ensinamentos não foram assimilados completamente.
Já repeti várias vezes que julgar o próximo é o mesmo que profanar a posição de Deus. É um erro gravíssimo, para o qual peço muita atenção. O homem é incapaz de discernir o Bem do Mal. Se ele julga ter conseguido esse discernimento, é porque atingiu, inconscientemente, o auge da presunção. Isso prova que ele nem ultrapassou o portão da Fé.
Devem também levar em consideração que a Providência Divina não é fácil de ser compreendida pelo raciocínio humano. Querer compreendê-la com a fé “Shojo”, é o mesmo que espreitar o céu através de um orifício. Já me cansei de repetir que não permaneçam nesse tipo de fé, porque só se consegue conhecer a Vontade de Deus com a fé “Daijo”. Mas isso parece ser difícil, pois, infelizmente, há pessoas que persistem no erro.
Observando a sociedade em que vivemos, notamos que ela apresenta um aspecto limitado em todos os setores. De vez em quando, os jornais anunciam escândalos pela disputa de poderes entre facções criadas dentro das organizações religiosas. Não constituem exceção os partidos políticos, as empresas e outras associações, sendo escusado falar sobre os prejuízos causados à eficiência e progresso dos empreendimentos.
Deus quer reconstruir este mundo justamente por causa de tais erros. Um estudo aprofundado mostra-nos que todos eles resultam dos princípios “Shojo”. Ora, se não partirmos dos princípios “Daijo”, jamais surgirá uma sociedade sadia e altruísta. Assim, espero que, se os nossos fiéis ainda possuem resquícios de pensamentos estreitos e vulgares, tomem consciência disso o quanto antes e procurem reformar sua mente, para se tornarem verdadeiros messiânicos. Com a intensificação gradual da purificação, o Juízo Divino se tornará mais severo, e, se não o fizerem agora, será tarde demais para arrependimentos.
São realmente verdadeiras estas palavras que aparecem insistentemente nos ensinamentos da Igreja Oomoto: “A presunção e o engano são causas de grandes desgraças.” Têm o mesmo sentido as palavras de Jesus: “Não julgueis.” O importante é a pessoa julgar a si própria, não se intrometendo nos atos alheios.
Os nossos adeptos já sabem que ninguém deixa de ter toxinas no corpo. O mesmo acontece no terreno espiritual: ninguém deixa de apresentar máculas, razão pela qual Deus procura salvar-nos através da purificação. Eu sei tudo que se passa dentro das pessoas. Como não me manifesto, elas se preocupam, achando que não sei de nada. No entanto, eu permaneço calado, entregando tudo nas mãos de Deus. Isto porque aquelas pessoas que realmente não têm mais jeito, são afastadas por Deus; se forem pessoas perversas, Ele soluciona o problema tirando-lhes até mesmo a vida. Até agora, algumas pessoas tiveram esse fim; os membros veteranos devem estar cientes disso.
Como eu falei, para mim, que deixo tudo nas mãos de Deus, é cômodo e tranqüilo. Do meu ponto de vista, a maioria das pessoas é mimada. De certo modo é lamentável, mas mesmo os heróis mundiais e as pessoas destacadas do Japão, eu os considero filhinhos de papai. Entre eles, os mais mimados são as pessoas perversas. Kitamura, o fundador da “Odoru Shukyo”, só de ver a fisionomia dessas pessoas afirma que elas são vermes; sua forma de falar é grosseira, mas acho que é uma verdade. A conversa foi deveras desviada do assunto, portanto, vou encerrar por aqui.
Alicerce do Paraíso, “Não julgue” – (13/05/53)