Não existe pessoa tão singular quanto eu. Nos limites do que se conhece desde os tempos antigos, através das biografias de religiosos, sábios, grandes personagens etc., não há ninguém que se encaixe nos mesmos moldes. Com certeza, trata-se de um fato inédito desde o início do mundo. Eu próprio, quanto mais penso nisso, creio que tudo se resume numa palavra: mistério. Conseqüentemente, no futuro, quando se fizerem pesquisas sobre minha pessoa, inevitavelmente surgirão inúmeras críticas. Com esse pensamento, quero deixar retratada a minha imagem mais real.
O que julgo mais interessante, ao escrever sobre mim mesmo, é a minha própria personalidade. Os mistérios que me envolvem são tantos, que eu vou me analisar não só de acordo com o meu próprio ponto de vista, mas também de terceiros. Até as pessoas que têm contato comigo há mais de dez anos ainda não compreenderam realmente esses mistérios; nem mesmo minha esposa parece entender-me muito bem.
Naturalmente, sou religioso, mas não sou um fundador de religião como o foram Sakyamuni ou Jesus Cristo; tampouco sou um personagem sobrenatural. Em verdade, abranjo aspectos muito amplos.
Quando jovem, nunca atentei para esse fato; tinha apenas uma leve consciência de ser um pouco diferente das pessoas comuns. A principal diferença que eu encontrava em mim é que não sentia nenhuma inclinação para adorar qualquer pessoa, fosse ele um grande personagem histórico ou qualquer outra eminência. A verdade é que eu não julgava ninguém tão relevante a ponto de ser superior a mim. Não era pretensão nem presunção; era um sentimento que surgia naturalmente, e por isso muitas vezes cheguei até sentir solidão.
Outra de minhas características particulares é um forte sentimento de justiça e o dobro de ódio ao mal sentido pelas pessoas comuns. Eu sofria bastante para dominar o furor que sentia ao ler os jornais diários. Acreditava, então, que, para diminuir as injustiças que se me deparavam o melhor meio era fundar um jornal. Naquela época, uma pessoa só conseguiria abrir uma empresa jornalística se tivesse mais de um milhão de ienes, e eu tive de trabalhar bastante para obter essa quantia. Lamentavelmente, ao contrário do que esperava, acabei fracassando. No entanto, como esse fato se tornou um dos motivos que me levaram a seguir a vida religiosa, considero-o até positivo.
Foi assim que ocorreu o meu ingresso na Religião Omoto. Graças a essa religião, eu, que até então era completamente agnóstico, pude conscientizar-me profundamente da existência de Deus. Como me aconteciam surpreendentes milagres, uns após outros, é claro que meu sentimento mudou completamente, dando uma volta de cento e oitenta graus. A cada dia aumentava o número de milagres, até que finalmente recebi a revelação espiritual sobre a minha vida no passado, no presente e no futuro, além de ser investido de um poder sobre-humano e da grande missão de salvar a humanidade.
Um fenômeno que achei muito curioso, nessa época, é que uma força grandiosa me manejava livremente, fazendo com que, por meio de milagres, eu me encontrasse, pouco a pouco, com o Mundo de Deus. A minha alegria, nessas horas, era irrefreável. Era uma sensação indescritivelmente profunda, nítida e elevada. Além do mais, os milagres continuavam, acontecendo fatos interessantíssimos. Não sei quantas vezes cheguei a provar essas sensações num só dia. O maior de todos os milagres foi o que ocorreu em dezembro de 1925, último ano do reinado do imperador Taisho.
(Artigo não publicado, escrito em 1952).