Desde a antigüidade, a fé e as práticas ascéticas são vistas pelo povo como se tivessem íntima relação entre si.
As práticas ascéticas tiveram origem no bramanismo, que predominava na metade da antiga Índia, antes do nascimento de Sakyamuni (Buda). A pintura e a escultura “Arhat” revelam a crueldade dessas práticas. Por exemplo: os praticantes suspendiam algo só com um braço, sentavam-se entre a bifurcação de dois galhos, ou chegavam ao cúmulo de praticar o “Zazen” (meditação profunda, com as pernas cruzadas) sentados numa tábua cheia de pregos. Houve religiosos que se mantiveram anos seguidos na mesma posição. Eles acreditavam que, perseverando em tais sofrimentos, conseguiriam atingir a Iluminação, ou melhor, sentir-se-iam iluminados.
É muito famoso o martírio de Dharma, o qual abraçou a Verdade no momento em que se sentiu profundamente iluminado pelo luar, que ele estava contemplando numa noite de prática ascética. Segundo a tradição, Dharma não tem pernas porque elas ficaram atrofiadas, deixando de funcionar durante os nove anos que ele passou sentado diante de uma parede, em estado de meditação.
Dizem que ainda há muitos ascetas brâmanes na Índia, os quais chegam a operar milagres. A meditação do falecido Rabindranath Tagore, nas profundezas de uma floresta, e o jejum praticado diversas vezes por Mahatma Gandhi devem ser práticas ascéticas brâmanes.
A ascese era amplamente praticada na época em que surgiu Sakyamuni. Não contendo sua compaixão por aqueles que se entregavam ao martírio da autotortura, ele pregou a possibilidade de qualquer pessoa tornar-se mais iluminada através da leitura das escrituras búdicas. Emocionado com a eminente virtude de Sakyamuni, o povo hindu fez dele objeto de adoração. Assim, pela lógica, os budistas que praticam a ascese estão contrariando as boas-novas de Sakyamuni.
Não posso concordar com os religiosos japoneses que ainda persistem nas práticas ascéticas brâmanes. Isto porque os fiéis da nossa Igreja abraçam a Verdade, seguem o Caminho e conseguem cumprir sua missão sem fazer prática ascética de espécie alguma.
25 de janeiro de 1949
Alicerce do Paraíso. Vol.2
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